terça-feira, 20 de outubro de 2009

O barulho da chuva

Acordei sonolenta a sentir um agradável vento fresco a entrar pela janela.
Cheira bem e faz um barulho que é música para meus ouvidos.
Já faz tempo que esperava por isso, chove torrencialmente, as gotas a caírem do céu parecem brilhantes.
Apaixonada pela chuva, ainda não descobri o porque deste amor, acho que foi amor a primeira vista destes que o sujeito não se lembra como e nem quando começou, mas tem a certeza que nunca se acabará.
A chuva desaba do céu impiedosa, lava tudo que encontra, purifica.
Me lembro que na minha infância escapava dos olhos de minha mãe e fugia para tomar banho de chuva, era mágico, libertador.
Penso que nasci num dia de chuva, nunca me certifiquei disto para não perder a ilusão.
Não sou saudosista, mas a chuva me trás lembranças únicas de diversas fases de minha vida.
Recordo que em alguns momentos tristes, caia a chuva eu logo ficava calma.
Sempre penso que depois da chuva tudo vai melhorar, sempre melhora, pois fico perdida em meus pensamentos, e se não mudar o que tem por aí a fora, ao menos muda aqui dentro.
Aproveito este momento calmo, onde só quem fala é a chuva, e me aventuro em busca de cartas, fotos e pequenos pertences guardados, que remetem o carinho dos que já não estão perto de mim.
Me invade de repente uma vontade de voltar para casa, de voltar para trás, de bater palmas no portão da casa de minha mãe, e ela abrir com todo o amor que sempre tem a oferecer, e nos juntarmos como nas tardes de domingos em que ficávamos todos a brincar e conversar como se o tempo não existisse.
Muitas das vezes depois de conversas altas, risadas mais altas ainda, desentendimentos, choros, brincadeiras e todas as coisas que as famílias fazem, o tempo passava enfim, e cada um voltava para sua casa, com a chuva a selar o dia feliz.
Entre a distância do tempo, e a distância geográfica que me separa dos que amo, existe a chuva que embala como se fosse a “nossa canção”.
O oceano que existe entre nós não é maior nem mais bonito do que todos os momentos juntos. Sei que este tempo não volta atrás e nem quero, nós não somos mais os mesmos.
Cada gota de chuva representa para mim um ser diferente e especial, pessoas que brilham ao longe. Pessoas que eu posso até tocar numa estação qualquer, mas quando inverno chegar já não estarão comigo.
Assim vou observando a chuva torrencial, meu antídoto para a saudade.

Sara Almeida

1 comentário:

  1. Mesmo com um oceano a separar-nos existem sentimentos que nos unem. A chuva para mim também é mágica... E aqui hoje também chove :) Também guardo comigo essas recordações de infância de quando chovia e me sentia tão aconchegada! Falamos aqui no blogue, não nos conhecemos de facto mas... Será que no universo alguma coisa é ao acaso? Beijinho muito grande

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