domingo, 27 de fevereiro de 2011

Incurável(mente)!

em alguns instantes minha consciência se vê invadida por um estranho desejo,
que pode parecer controverso: manter a consciência e o desejo algemados.
consciência e desejo num único caminho sem sufocamentos.
com uma pequena distância da corrente que separa as duas argolas,
mantendo desejo e consciência circularmente envoltos e singulares,
unidos mas não grudados, juntos mas não iguais
cada qual com sua particularidade, portanto atitudes simultâneamente traçadas.
a mim, me parece que teria uma bela ciranda marcada com o fecho das algemas,
mas tal pensamento acaba por vir pela mistura insana daquilo que sou e do que tenho.
tenho consciência que sou mais desejo que consciência
tenho desejo de ser mais consciência do que desejo
não existiria em mim algo tão equilibrado entre o desejo e a consciência,
simplesmente porque equilíbrio requer muita prática, que requer paciência...
paciência, recordo do nome, porém o conteúdo me foge sempre que me esforço por lembrar...
e volto sempre ao mesmo de mim, o que existe de incurável
em mim existe nem pouco, nem mais do que querer o que não é possível:
ser consciente dos desejos e ter desejos conscientes.
apenas sou assim bem humanamente imperfeita, desejando ser melhor e consciente de que ainda serei pior!
SA

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Senti(mental)

No labirinto profundo que sou eu
existem portas camufladas pelas folhagens,
portas conhecidas apenas por aqueles a quem eu decidir dar a chave
e também aqueles que conseguem a chave mestra e quando vejo estão lá
em alguns momentos existem cantos sem saída onde fico presa
mesmo solitária, mas é quando me gosto mais,
se distante da multidão pareço triste, não sou, pode ser libertador
não gosto muito das misturas que a maioria pinta
gosto de escolher meus próprios temperos
de bagunçar minha própria vida
ou de colocar tudo em ordem
ora crescente ora decrescente,
ou então simplesmente sem ordem aparente
minhas palavras as vezes ficam emaranhas
ou arranjadas numa estante perfeitamente acessível
do meu jeito, o meu invento
e quando pareço feliz é real
não estou aqui para atuações
eu alinho de acordo com os sentidos
e transformo ideias em sentimentos
corro pela vida, pesquiso sentidos, atitudes e ideias
mas na verdade estou pesquisando um todo
para descobrir a mim mesma
para sentir o que é tomar a atitude de ter as próprias ideias
e naquilo que nem sabia ter cor
descubro sublime amor
no lugar que mais me escondo e onde estou a mostra
capto novos sons, misturo outros tons
por vezes me torno solúvel
posso até parecer muito discreta
na minha caixinha secreta
essência abstrata...SA
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