sábado, 31 de outubro de 2009

Girassol

Onde está o girassol, lá está a vida
De manhã tem brilho ofuscante, a noite tem a graça dourada.
Girassol é imponente e majestoso.
Ao redor do girassol não sobrevivem as ervas daninhas.
És majestoso plantado no chão, seu riso é frouxo quando é livre. Girassol flor do sol radia sua beleza.
Não nasceu para decoração e arranjo sobre a mesa.
Sua cor intensa cura minha tristeza.
Girassol exótico, intrigante, sempre cativante.
Uma flor de aparência delicada, mas de essência robusta e resistente.
Espalha suas sementes na primavera e verão.
Mas floresce abundante em qualquer estação.
Girassol floresce belo e expande sua cor.
Distante de mim, resiste ao frio e a dor.
Girassol poupa energia para quando o sol dormir.
Quero estar com o girassol, por um momento que seja, aproveitar com alegria sua companhia e admirar sua beleza.
Girassol a flor do sol, flor mais linda do meu jardim.
Por mais flores que eu plante aqui, foi com você que aprendi.
Com você que vi o sol brilhar depois de uma noite escura e fria.
Nos meus sonhos girassol esta sempre a florescer.
Entre todas que escolhi e de todas que perdi és a mais feliz das flores.
De todas elas és a mais bela, és realmente aquela.
Estar longe de você muitas vezes me faz sofrer.
Mas espere girassol, num amanhecer amarelo vou aparecer para sentir seu perfume e rir do seu riso sempre belo.
Girassol aproveite o seu brilho, seu brilho é como a luz do sol: infinita e inexplicável.
Vou seguir aqui distante, no meu estilo viajante, por um tempo incerto, até poder voltar para perto.
Daqui sinto o seu cheiro, e enxergo seu brilho.
Por uns instantes você até parece estar aqui comigo.

Sara Almeida

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dois


Você que está sempre comigo
No jardim dos sonhos
Nas esquinas da fantasia
No pomar das guloseimas
Nas cascatas de ilusões
Nos rios de lágrimas
Nas tempestades de gargalhadas
Você que está comigo
Quando acerto bate palmas
Quando erro me corrige
Quando não sei me ensina
Nas falhas sempre me ama
Sem você não tem beijos ao amanhecer
Não tem cheiro ao entardecer
Falta o abraço a aquecer o anoitecer
Sem você sou só mais uma metade
Com uma asa só perco o equilíbrio
Com você tudo é mais belo
As gotas de chuva são brilhantes
Os raios de sol inebriantes
Nossas rosas têm espinhos de algodão
E as pedras ficam apenas no chão
Caminhamos juntos pelo cais
Somos dois e tudo mais é demais

Sara Almeida

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Animais Inteligentes no Espaço

Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares. Havia uma vez um astro, onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’, mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza.
Houve eternidades em que ele não estava, quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta que conduzisse além da vida humana. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberíamos então que também ela bóia no ar com esse páthos e sente em si o centro voante deste mundo. Não há nada tão desprezível e mesquinho na natureza que, com um pequeno sopro daquela força do conhecimento, não transbordasse logo um odre; e como todo transportador de carga quer ter seu admirador, mesmo o mais orgulhoso dos homens, o filósofo, pensa ver por todos os lados os olhos do universo telescopicamente em mira sobre seu agir e pensar.
Friedrich Wilhelm NIETZSCHE

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Desejo


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer,
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso contínuo é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

(Texto de Victor Hugo, adaptado por Vinicius de Moraes)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Eficiência Moral

As vezes me pego a pensar em todas as pessoas que já conheci, foram muitas e nem todas sinto prazer de ter conhecido. Algumas poderiam não ter aparecido, mas apareceram e contribuíram para meu crescimento embora por vezes eu não queira aceitar isso. Por outro lado também não sinto orgulho da minha passagem na vida delas, se as coisas correram mal a culpa também foi minha, se uma relação não produz o efeito desejado não é culpa de um só! Uma pessoa muito especial, e por vezes sábia, brinca comigo dizendo sempre: "as histórias têm sempre três lados: o narrador, o outro elemento e a verdade". Não sei se as coisas são sempre desta maneira, mas em muitas circunstâncias sim.
Conseguimos sempre ver a hipocrisia, a mentira, a falsidade, defeitos de todos os tipos nos outros, mas quando é conosco tem sempre um porém, temos sempre um grande motivo nosso para cometermos erros irrefutáveis.
Não é coisa fácil analisar as próprias falhas, tão terríveis que dói mesmo escrevê-las até num diário secreto, é sempre duro admitir as crueldades que somos capazes. Não se assustem, nunca cometi crime algum, são falhas, nada que me deixaria numa cela presa e longe da sociedade, nada que a lei determine ser perigo à sociedade. Na verdade são atitudes tomadas sem serem premeditadas, no calor dos acontecimentos, que depois me envergonha perante todos, e o pior perante eu mesma. Atitudes insanas, que me tocaiam numa prisão pior do que a de uma cela, a prisão da consciência, essa sim que nos machuca e maltrata.
Isso não é uma confissão, longe de mim, para tal teria que citar nomes e fatos, não, não sou capaz! E não pretendo me redimir, essa hipótese no meu ver seria nula. Aliás penso que desculpa não se pede, evita-se.
A verdade é que não existe sentença para crimes sentimentais, se existisse a sociedade talvez fosse um pouco mais amigável, ou não! Eu teria algumas penas para cumprir, mas também teria que processar algumas pessoas.
O que alivia é pensar que apesar de todas as deficiências morais, ainda há pessoas com boas atitudes. Até aquelas mais cenhosas, são sim capazes de um gesto de paz, basta oportunidade.
Eu mesma com todos os erros, vou me perdoando dia a dia, e tentando melhorar sempre. Nem sempre tenho sucesso, mas podem crer, sou incansável a tentar. Não tentaria se não fossem pouco mais de meia dúzia de seres excepcionais que aprendi a amar apesar dos meus defeitos e dos deles também. Penso que a tentativa esforçada de melhorar como ser humano é eficiência moral! Pode parecer mentira mas o errante torna-se perfeito aos olhos do amor, só amando para aceitar a deficiência, seja ela qual for!

Sara Almeida

sábado, 24 de outubro de 2009

Último Adeus...

Há mais de seis meses que não se encontravam, não porque eram ocupados demais, ou porque se amavam de menos. Não se viam com frequência desejada por puro desleixo, porque um tinha a certeza que o outro estava bem e já bastava.
Numa manhã quente de fim de Novembro, ela foi acordada para saber o que mudaria sua vida dali para frente: seu querido irmão se fora, já não se encontrariam mais, não mais com alegria e abraços apertados.
Ele havia sofrido um terrível acidente, que o tirou para sempre dela e de todos os familiares. Coincidência ou não, naquela noite trágica, ela havia sonhado com ele e não tinha sido um sonho bom. Percebeu ali, logo ao despertar, que esta foi a primeira péssima notícia de sua vida, tudo antes disso deixou ser importante.
Ficou desnorteada, fraca, sem reação, não podia ser, devia ser engano, desconhecidos a dizerem que ele se foi, essas pessoas não sabiam e nem sequer eram capazes de imaginar o peso daquelas palavras. Ouviu tudo aquilo como se fosse um zumbido, e desejava que nos próximos segundos palavras claras fossem ditas, sim porque não suportaria nem sequer mais um minuto essa dor.
A dor só foi aumentando, e os segundos se transformaram em minutos seguidos de horas, sim era real! Ela não sabia como, mas teria que aceitar e conviver com isso.
Todas as lembranças deles vieram imediatamente na memória, mais pareciam filme antigo. Lutou com sua mente para manter recordações dele vivo: a voz, o sorriso, o cheiro, tudo dele vivo nela, teve um medo imenso de se esquecer dele.
Sofre a pensar nos beijos e abraços não dados, nas palavras não ditas, nas atitudes mal entendidas, e chora ainda mais por não se lembrar de uma única vez ter dito a ele o quanto o amava e o quanto ele era importante para ela. Embora no fundo entenda que ela já sabia disso.
O caminho até o último adeus foi longo e doloroso. Passava por lugares conhecidos que naquele momento deixaram de ter significado. Não via ninguém, nada importava, não naquele momento, a única coisa que conseguia ouvir com clareza era o próprio choro desesperado. Em meio ao pranto parecia que toda a vida não tinha passado de sonho.
Dentro do carro ela tinha um olhar perdido, pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo. Era uma confusão de ideias e sentimentos.
Foi a primeira vez que a morte cruzou o seu caminho, levou inesperadamente um dos seus. Pensa que é mesmo assim quando menos se espera acontece, não existe remédio para esta dor, apenas o conformismo.
Por muito tempo teve a imagem dele inerte a encher sua cabeça de dúvidas e olhos de lágrimas. Conseguiu com muito esforço apagar esta imagem mórbida e mantê-lo vivo, com a imagem do sorriso bonito que ele sempre teve.
Passado um tempo seria até capaz de rir lembrando de situações felizes compartilhadas em família. E o tempo passou depressa, os olhos dela não negam que ainda chora calada ao revê-lo de alguma maneira num desconhecido na rua, ou num personagem de livro, numa letra de música, em muitos lugares, pois o carrega no coração.
Ela sofreu muito com a partida dele, e aprendeu muitas coisas também, a vida passou a ter outra face e a morte deixou de ser um medo.
Para ela viver ao lado dele foi um sonho bom. Um sonho com um jardim florido e farto de belezas, e quando acordou decidiu apagar tudo que dói e guardar o perfume que só ela consegue sentir.
Viveram boas coisas juntos, muitas mais do que ela lembra, o tempo apaga as lembranças por isso decidiu guardar o perfume.
Brincaram, brigaram, choraram, cantaram, dançaram, trocaram segredos, entre todas as coisas que os irmãos fazem juntos. Muitas luas foram testemunhas das suas diversões noturnas.
Ela respira profundamente e conclui que irmãos são para crescer juntos, por isso é muito triste aceitar que irmãos se vão.
Ela amadureceu e apesar de lamentar essa dura partida, pensa que tem ainda pessoas que precisam dela por perto. Segue o resto de sua vida, e com a marca fraterna as vezes a apertar o peito.
Ele foi embora, nunca mais voltará. Nunca mais é a coisa mais dura de se ouvir. Ainda com uma agonia latente percebe que ele ficou preso no sonho e que sentirá para sempre a falta dele, e para sempre também é difícil de ouvir.
Assume um jeito realista de encarar as coisas para sobreviver a todas as outras perdas que estão por vir.
E carrega consigo o menino dourado, seu irmão querido, que foi cedo e ainda hoje passeia em seu sonho, como uma andorinha que vem e que vai, em qualquer noite de qualquer estação.

Sara Almeida

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Simples assim


Não quero uma casa minha, minha casa é onde e o que me faz sorri.
Não quero roupas ou jóias, diplomas ou automóveis de luxo.
Nem sei os nomes dos automóveis. E que mal há nisso.
Quero mais uma bicicleta vermelha, para quando pedalar sentir o vento acarinhar minha face.
Se for daquelas de dois lugares melhor ainda, assim levo meu amor…
Passear num campo repleto de Tulipas coloridas.
Quero pular de para quedas e quando ele se abrir meu coração bater tão rápido que meu pensamento não será capaz de o acompanhar.
Sonho secretamente em voar.
Quero fazer longas caminhadas em lugares paradisíacos, subir escadas altas e quando voltar para baixo sentir as pernas tremerem tanto como se fosse desabar.
Quero continuar a não entender nada do que me dizem e demonstrar isso sem medo de não ser tão inteligente quanto posso parecer.
E depois de muito rir da minha ignorância ir atrás do livro mais completo sobre o assunto, ler tudo e a seguir esquecer se não me parecer interessante.
Quero sempre chegar a praia e pular na água, mesmo que seja gelada, e estar ali o dia todo a brincar feito criança.
Quero comer todas as coisas mais deliciosas que me aparecerem jurando que “amanhã” comerei menos. E “amanhã” nem sequer lembrar do que havia comido.
Voltar a comer seriguela minha fruta predileta, seguida de manga e jaca, huuummm!
Quero sentir tantas coisas ainda, pode ser que não consiga nem metade, mas posso descobrir tantas outras que nem imagino que existam.
Não quero deixar de ser teimosa, nem quero gostar das coisas que todos gostam só porque é moda.
Não posso abandonar minha essência assim, por uma multidão de pessoas que nem sabem definir o que sentem.
Não sei definir o que sou, nem adiantaria, cada um me define de acordo com seu olhar indiscreto ou não.
O que somos não interessa, o que importa é que o que sentimos, pois é sentindo que agimos.
Então vou seguindo este sentir e repetindo sentimentos, e corrigindo atitudes…
Sinto me bem assim!

Sara Almeida

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Perfume


Estava aqui perdida nas sensações, buscando o que escrever, o que desta vez iria exorcizar de mim. Algo me seduziu nesse curto espaço de reflexão: minha infância, não abrangente, mas, especificamente, minha infância na casa de minha avó, Dona Maria Nilce Senador.
Se me permito fechar os olhos, vou de encontro aquela varanda, de mármore frio branco e preto, um vaso de planta com flores microscópicamente tímidas de cor romã, adorna uma mesa de ferro branco mono cromática, sem muitos adjetivos, a porta, visivelmente grande para uma menina de 5 anos, com uma fechadura antiga, que eu tinha prazer de apertar com cautela, na ansiedade de chegar ao ponto marcado do pique-esconde, antes de todos os netos. Meus primos: Fred, Lara, Tati, Tiago e Vítor… Entendimentos, desentendimentos, meus irmãos temporários, todos adotados por minha avó, e que se sentiam no direito de dividir a casa em feudos particulares, fazendo um ou outro de vassalo. Domingo, natal, ano novo, aniversário ou uma eleição ganha, e lá estava ela com sua roupa impecavelmente fina e colorida, o cabelo acima do ombro - negro como ébano e com cachos quase que fabricados, unhas meticulosamente feitas e uma voz inconfundivelmente linda. Eu ficava observando-a comer, com os dedos sujos do frango suculento, e ela mastigava com a boca aberta, sem perceber, fazendo surdos barulhos de virulentas mastigações. Recebi repreensões de minha mãe por ressaltar isso ao pé do ouvido. Depois, íamos todos para a sala, uma sala grande onde cabia a todos, o que causava uma corrida quase que mortal: os netos iam primeiro, iniciando uma guerra particular pelos melhores lugares do sofá cor de marfim, onde havia uma mesa de madeira escura com tampo de vidro transparente, e que, ate o final da conversa teria de permanecer intacta, sem nenhuma mancha, principalmente de peraltos dedos.Fim de tarde, quintal, aquele onde passou tantas horas da minha vida: solidão, repreensões, desobediências, planejamentos e um intenso exercício de criação. Um parquinho particular me esperava, rodeado por um canteiro, colorido até nos mais tímidos cantos, onde ela, com todo seu esmero, mantinha-o, com uma irrepreensível perfeição. Rosas, maiores do que uma criança: vermelhas como sangue, brancas como nuvem ou rosas como um fim de tarde.Subíamos depois de horas recriando o dia anterior, esfomeados, para a mesa com seus tantos quilos de madeira maciça, robusta, de banco comprido como os de arquibancada, enfeitada com uma toalha branca, farta e acompanhada do fogão de lenha, permanentemente aceso… Cheiro de café, biscoito de “dedinho”, pinhão - que durava segundos na mesa. Minha avó acolhia todas aquelas bocas abertas, naquele ninho. E lá vinha ela do quarto para servir a comida, envolta por uma beleza leve e digna de contemplação…Ah que saudade! Eu dizia: “ o Fred puxou o meu cabelo; “ eu quero leite”;“ eu quero dinheiro” ou “, hoje não é a Tati que dorme com você, eu e que vou”, e ela, como uma boa avó permanecia calada, emitindo uns resmungos agradáveis, detrás de um sorriso inesquecível nos lábios cobertos de batom cor de boca, que ela adorava. Chegada a hora de dormir e a casa ainda permanecia em movimento: travesseiros, conversas chegando ao fim, cigarros, vinho, cervejas dançando pela cozinha. Eu, a neta caçula, sempre chegava por último, carregando todos aqueles cobertores e apetrechos, que, juntos, formavam um monstro macio três vezes maior do que quem os carregava. Ela batia a mão ao lado da cama, já com os óculos acoplados no nariz, o livro na mão e o abajur cor de ouro acesso no canto direito da cama. Eu pulava para cima daquele colo e me afogava na alegria de ter chegado a minha vez de acompanhá-la pela noite de sonhos e pesadelos. Abraçava-a forte, o corpo macio e uma pele que nunca toquei igual: macia como um pêssego, mesmo já estando na faixa da “Terceira idade”, impregnada do cheiro do desodorizante azul, que ficava espalhado pelo quarto. Isso tudo fazia com que eu me sentisse segura, nos meus quatro aninhos, quando eu era levada para a casa dela para o deleite de meus jovens pais. Lembro meus olhos vermelhos de medo do abandono, sentados no muro da varanda, segurados pelos roliços braços de minha avó, vendo os meus pais, já sorridentes pela bebida, partirem tranquilos para mais uma imatura noitada.
Aquela casa, era meu porto seguro… Aí, eu era posta na cama, e conversávamos horas, ela 60 e poucos anos e eu nos meus interrogativos cinco. Uma companheira, guerreira, eterna, mãe, avó e amiga.
Como a saudade dói minha querida avó, como você faz falta nessa família que se abrigou tantos anos em seu ventre, mas a saudade existe para ser sentida e você, para ser lembrada. Veio a doença, insistente - e esse é um assunto que não merece abordagem intensa, somente breve e inevitável citação. Mas da segunda vez, o câncer veio mais forte, foi quando a vi desaparecer devagar: primeiro o batom, depois o cabelo, o livro, os biscoitos, as roupas de seda e por fim sobrou apenas uma toalha branca e algumas migalhas de pão.
O piano emudeceu, como emudeceram as fotos de rostos conhecidos que o enfeitavam. Até que um dia a Senhora Morte se compadeceu e sem mais dor nem alarde cortou o fio dourado, fechando a última porta, levando consigo aquela que ainda perdura.
Mas o riso alegre, o passo enérgico, o perfume, a música, a voz e aquelas rosas, aquelas rosas permanecem comigo...Imagens inesquecíveis de quem já partiu… Mesmo que já se tenham baixado todas as cortinas…

por Isis Valverde

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O barulho da chuva

Acordei sonolenta a sentir um agradável vento fresco a entrar pela janela.
Cheira bem e faz um barulho que é música para meus ouvidos.
Já faz tempo que esperava por isso, chove torrencialmente, as gotas a caírem do céu parecem brilhantes.
Apaixonada pela chuva, ainda não descobri o porque deste amor, acho que foi amor a primeira vista destes que o sujeito não se lembra como e nem quando começou, mas tem a certeza que nunca se acabará.
A chuva desaba do céu impiedosa, lava tudo que encontra, purifica.
Me lembro que na minha infância escapava dos olhos de minha mãe e fugia para tomar banho de chuva, era mágico, libertador.
Penso que nasci num dia de chuva, nunca me certifiquei disto para não perder a ilusão.
Não sou saudosista, mas a chuva me trás lembranças únicas de diversas fases de minha vida.
Recordo que em alguns momentos tristes, caia a chuva eu logo ficava calma.
Sempre penso que depois da chuva tudo vai melhorar, sempre melhora, pois fico perdida em meus pensamentos, e se não mudar o que tem por aí a fora, ao menos muda aqui dentro.
Aproveito este momento calmo, onde só quem fala é a chuva, e me aventuro em busca de cartas, fotos e pequenos pertences guardados, que remetem o carinho dos que já não estão perto de mim.
Me invade de repente uma vontade de voltar para casa, de voltar para trás, de bater palmas no portão da casa de minha mãe, e ela abrir com todo o amor que sempre tem a oferecer, e nos juntarmos como nas tardes de domingos em que ficávamos todos a brincar e conversar como se o tempo não existisse.
Muitas das vezes depois de conversas altas, risadas mais altas ainda, desentendimentos, choros, brincadeiras e todas as coisas que as famílias fazem, o tempo passava enfim, e cada um voltava para sua casa, com a chuva a selar o dia feliz.
Entre a distância do tempo, e a distância geográfica que me separa dos que amo, existe a chuva que embala como se fosse a “nossa canção”.
O oceano que existe entre nós não é maior nem mais bonito do que todos os momentos juntos. Sei que este tempo não volta atrás e nem quero, nós não somos mais os mesmos.
Cada gota de chuva representa para mim um ser diferente e especial, pessoas que brilham ao longe. Pessoas que eu posso até tocar numa estação qualquer, mas quando inverno chegar já não estarão comigo.
Assim vou observando a chuva torrencial, meu antídoto para a saudade.

Sara Almeida

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Flor no cabelo



A menina caminha com a flor no cabelo, seu único tesouro.
Corre perdida no meio do nada que a multidão remete.
A menina vai em busca da resposta, uma busca inútil.
Ela não sabe, a reposta esta dentro dela.
Ninguém vai falar, ninguém pode falar, ela não vai acreditar.
Ela tem caminhar, tropeça, levanta, não pára.
Tão desfocada, descabelada, desperdiçada.
A menina tem tanta graça, e sabe disso.
Bela menina só precisa da flor no cabelo, o que basta.
Parece uma fada, tem uma doce magia.
Pode estar mal vestida, desiludida, de mal com a vida;
Continua sempre com o fascínio de menina.
Por quantas ruas irá passar com essa singela beleza;
Quantas almas irá conquistar, depois abandonar.
Ela é como uma poesia, ainda incompleta, a espera das palavras certas.
O tempo corre junto com a menina, perdida nos ventos da juventude;
Ela dança a música que cada vez fica mais distante.
Olhos espiam ela passar, desejam sua felicidade e invejam sua beleza.
Observo a menina, ela não quer me ouvir, foge disparatada.
A menina não tem olhos para ninguém, segue seu caminho e além.
Sente o vento beijar o seu cabelo, e toca a flor que continua ali.
A flor no cabelo, seu talismã.
Deixo-a ir, chorar, sorrir, isso é existir.
Ela é feliz ao seu modo, com a flor no cabelo, num total desapego.

Sara Almeida

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O tempo que ganhamos

Onde foi parar o tempo que ganhamos?
Havia mais terrenos baldios. E menos canais de televisão.
E mais cachorros vadios. E menos carros na rua.
Havia carroças na rua. E carroceiros fazendo o pregão dos legumes.
E mascates batendo de porta em porta.
E mendigos pedindo pão velho. Por que os mendigos não pedem mais pão velho?
A Velha do Saco assustava as crianças. O saco era de estopa.
Não havia sacos plásticos, levávamos sacolas de palha para o supermercado.
E cascos vazios para trocar por garrafas cheias.
Refrigerante era caro. Só tomávamos no fim-de-semana.
As latas de cerveja eram de lata mesmo, não eram de alumínio.
Leite vinha num saco. Ou então o leiteiro entregava em casa, em garrafas de vidro.
Cozinhava-se com banha de porco. Toda dona de casa tinha uma lata de banha debaixo da pia. O barbeador era de metal, e a lâmina era trocada de vez em quando. Mas só a lâmina.
As camas tinham suporte para mosquiteiro.
As casas tinham quintais. Os quintais tinham sempre uma laranjeira, ou uma pereira, ou um pessegueiro. Comíamos fruta no pé.
Minha a tinha fogão a lenha. E compotas caseiras abarrotando a despensa. E chimia de abóbora, e uvada, e pão de casa.
Meu pai tinha um amigo que fumava palheiro. Era comum fumar palheiro na cidade; tinha-se mais tempo para picar fumo. Fumo vinha em rolo e cheirava bem.
O café passava pelo coador de pano. As ruas cheiravam a café. Chaleira apitava.
O que há com as chaleiras de hoje que não apitam?
As lojas de discos vendiam long plays e fitas K7. Supimpa era ter um três em um: toca disco, toca fita e rádio AM (não havia FM).
Dizia-se 'supimpa', que significa 'bacana'. Pois é, dizia-se 'bacana', sacas?
Os telefones tinham disco. Discava-se para alguém. Depois, punha-se o aparelho no gancho. Telefone tinha gancho. E fio.
Se o seu filho estivesse no quarto dele e você no seu escritório, você dava um berro
pra chamar o guri, em vez de mandar um e-mail ou um recado pelo MSN.
Estou falando de outro milênio, é verdade.
Mas o século passado foi ontem!
Isso tudo acontecia há apenas 20 ou 25 anos, não mais do que o espaço de uma geração.
A vida ficou muito melhor. Tudo era mais demorado, mais difícil, mais trabalhoso.
Então por que engolimos o almoço? Então por que estamos sempre atrasados? Então por que ninguém mais bota cadeiras na calçada?
Alguém pode me explicar onde foi parar o tempo que ganhamos?

Marcelo Canellas

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Prisma



Existe alguém dentro de mim.
Existe alguém muito além do que podes imaginar...
Apesar de me julgares ninguém, sou alguém!
Alguém que pinta seu próprio mundo com as cores disponíveis na paleta;
Antes que tudo escureça, antes que domine a cor preta.
Existe dentro de mim alguém que quer ver cores variadas,
e fantasia as cores em todos os lugares que os olhos possam enxergar;
Que muda a cor do mar, colore o caminhar, que tem muito para dar...
Para quem quer enxergar, e quem merece escutar, sou um arco-íris,
que só mostra as cores a quem espera a chuva passar...
Em mim existe alguém que sente quando erra, e erra porque sente!
Não posso culpar-te se enxergas outra cor em mim.
Mas existe aqui cores muito além daquelas que podes ver.
Assim como deve haver em você um outro ser que eu não quero conhecer.
E teimo em dizer que existe cores em meu ser!

Sara Almeida

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Divagando

Tenho encontrado pessoas;
Pessoas de várias maneiras;
Pessoas bonitas e pessoas feias;
Alguns me amam, outros me odeiam...
De algum modo todos me presenteiam;
Uns com alegria, outros com tristeza;
Eu também não lhes devolvo apenas beleza...
Analisando bem, é difícil saber quem é quem;
Poucos são verdades, os outros o que convém;
A maioria fingem se de amigos;
E são mais perigosos que os inimigos...
Os anos passam e alguns permanecem;
São raros os que vão e de nós não se esquecem;
Se viva for nossa lembrança dos bons,
entenderemos que fazer amigos é um dom...
Eu não tenho grande talento;
Para muitos fui um desalento.
Difícil acreditar nas pessoas
e mesmo assim ainda ser boa!
Tenho visto atitude mesquinhas
entre desconhecidos e até vizinhas;
Quase desacreditei das relações.
Pensando que sempre perdiam as emoções;
Mas encontrei uns poucos companheiros,
que demonstraram ser guerreiros.
Capazes de lutar com o mundo inteiro
em busca de amor verdadeiro.
Foi só assim que percebi,
bons sentimentos não têm fim.
Que os bons estejam ao meu lado,
para curar qualquer desagrado
E se não sobrar nenhuma bondade
que eu tenha lembrança, não saudade!

Sara Almeida

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A morte do pipoqueiro

Adoro geleia de mocotó. É sim, aquela clarinha, que tem um casca durinha...huummm... Mas é difícil de encontrar. Procuro sempre nos postos de estradas, mas o que tem lá é uma massa horrorosa, com gosto de plástico...No mercado municipal de Belo Horizonte, quase enlouqueci ! Tinha de todo tipo. Não vejo a hora de voltar pra lá e buscar mais...
E você, já tomou uma tubaína? Comeu aquela pizza de padaria? E o pudim de padaria?
Me escreve o Luciano Dorin: “ Com o confinamento das salas de cinema em shoppings, nesses gigantescos complexos importados, foi-se embora o pipoqueiro (que também vendia amendoim torrado quente...). Foi-se embora o vendedor de algodão doce. Foi-se embora um pouco mais da nossa cultura gastronômica (!) popular. Sobretudo foram-se embora os preços baixos da pipoca, o saquinho de 50 centavos. Vieram os modelos super-size made in USA com a potencial obesidade inerente. Afinal, isto aqui é um País de subnutridos!”. “Cultura gastronômica popular”. Que grande achado.
Que tal o sonho de padaria? E aquela raspadinha de gelo com xarope doce? Talvez a garapa com gelinho e limão? Quiçá uma pururuca? Ou bala de goma?
E aquele chá batido com leite em pó lá da Ipiranga com a São João?
Ou um Sanduíche de pernil? Ou o Bauru do Skinão, lá em Bauru, inigualável? E bote aí o que mais você lembrar...
É engraçado como essas pequenas, engordantes e irresistíveis maravilhas vão desaparecendo de nossas vidas. Podemos chamá-las de “cultura gastronômica popular”?
Penso que sim. Concluo que cada um tem sua sofisticação. Mas o principal talvez não esteja no sabor e sim na capacidade que cada um desses petiscos ou quitutes ou pratos, tem de destravar nossa memória. Pizza de padaria só tem aquele gosto, na padaria.
Aquele chá da Ipiranga com a São João, só tem aquele gostinho lá...in loco.
Daí a morte do pipoqueiro.
Pipoca de cinema não tem mais aquele gostinho de coisa feita à mão, imperfeita, trabalhosa, com piruá...
Pipoca de cinema, hoje em dia, tem cheiro de pipoca, cara de pipoca, gosto de pipoca. Mas não é pipoca. É um projeto de marketing.
Exatamente como os filmes: rápidas, bonitas, coloridas, cheias de efeitos. E no fim dão a impressão que faltou alguma coisa.
Talvez o pipoqueiro.

por Luciano Pires

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nilá


Seu nome era Nilá. Ou pelo menos soava assim, a quem ouvisse sua mãe chamando por ela. O que vivia acontecendo. Nilá sempre ficava para trás nas caminhadas. Distraía-se com uma flor, um pássaro, uma borboleta voando. Quando um animal feroz se aproximava, Nilá era a última a perceber. E a correr. E lá estava a mãe, preocupada como são as mães, a gritar seu nome: Nilá! Nilá, ao contrário dos irmãos, estava invariavelmente pensativa, quieta, preocupada com outras coisas.
Coisas às quais ninguém prestava atenção: o barulho do vento, o som da água correndo, o canto distante de um pássaro noturno. Nas tempestades, quando todos se acotovelavam para proteger-se do frio, lá estava Nilá, no mundo da Lua, olhando para fora da caverna. Por que gostava de ficar longe dos outros quando a chuva caía? O pai não entendia. Nem os irmãos.
Mas a mãe, sensível como são as mães, sabia que Nilá gostava de ouvir o ruído da chuva caindo e batendo nas pedras. Nilá! Gritava a mãe, preocupada com a filha. E a chamava para juntar-se à família para se aquecer e proteger-se da chuva.
Foi numa manhã de sol que Nilá mudou a história do mundo, embora não tivesse consciência disso. Caminhava, como sempre, distante dos outros familiares. Os homens estavam caçando e as mulheres cuidavam das crianças pequenas. Nilá passeava - no futuro inventariam um termo melhor, "flanava" - como sempre fazia nas belas manhãs de sol quando a temperatura era amena e as plantas e os bichos pareciam comemorar e celebrar o fato de estarem vivos.
Nilá viu de longe os restos de um animal morto. Aproximou-se, observou ossos e cartilagens do que fora um abutre. As carnes já haviam sido devoradas por outros animais. Nilá viu um osso fino e oco, de pouco mais de 20 centímetros. Num impulso, Nilá pegou aquele osso. Deixou-o ao sol, para secar. Depois, com o auxílio de algumas pedras usadas pelo pai (que teve de pegar escondida, já que o pai não entenderia o que ela tinha em mente), Nilá fez alguns furinhos no osso. Depois desse dia, a vida de Nilá mudou. Ficou famosa e várias famílias vinham de longe, em algumas noites de céu claro, ouvi-la soprar aquele osso em torno da fogueira. Há 40.000 anos, Nilá inventou a primeira flauta da história e criou a Música.
Sua flauta foi descoberta há poucos dias por arqueólogos na Alemanha.

Tony Belloto

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Harmonia



De repente imperfeita!
De uma imperfeição dorida;
Imperfeição evidente, cruel, precoce, mofa...
Ainda crisálida, na saída do casulo: incompleta.

Já borboleta luta para fortificar seu íntimo, a asa tomou forma crônica...desagradável.
Sozinha, desconsolada, não respeita, não aceita o defeito...
Olha tudo não percebe nada.
Infiltra-se em meio as muitas tribos;
Em vão fantasia-se como todas elas;
A verdade é nua.
Borboleta quando despe-se vê sua forma frágil, torpe...
A única saída: ignorar.
Ignora, a beleza, e a falta dela.
Descobre que existem outras saídas,
esconde a asa débil, e voa de outra maneira: caminha.

Caminha sem rumo, toma novas direções.
Nunca esquece que tem asas, secretamente quer voar...
Passos lentos, olhar perdido, riso frouxo.

Por um momento esquece o que esconde,
e aí percebe que ocultar a asa mingua a possibilidade de voar.
Ao imaginar-se presa ao chão para sempre, revolta-se;
Primeiro sente medo, depois esperança, até encorajar-se fortemente;
Arranca a cápsula na qual se esconde, e liberta-se.
Sabe que não existe uma cura, e voa mesmo empenada, mas voa...
Sente o vento carinhosamente, sente-se livre de si própria, já nada importa...
Não importa a feiura de sua asa, esta orgulhosa de si, agora sabe-se inteligente;
Sente-se interessante o suficiente para olhar outro bater de asas ao flanco;
É um bater de asas infinitamente belo, forte e protetor.
Junta-se a ele.

As asas são as mesmas, o íntimo resistente, o coração pleno...
Tudo esta em harmonia.
Já não esta só.
Deseja voar muito alto...nas asas do amor!

Sara Almeida

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Brisa

Ela hoje não fala, hoje cala,
não ri, não repara, não dança;
Descansa do seu desassossego;
A melancolia não seduz, contagia;
Apaixonou-se por este e por aquele,
agora inala a tristeza imediata;
Inconstante, insatisfeita,
planeia a próxima paixão,
em busca do elo perdido...
Anda absorta, está só,
não compreende, mas sente;
Observo, não falo, me calo,
reparo, ouço...des(espero)...
o regresso da menina que dança,
que canta, e encanta;
Eis que (res)surge, de um sono sedativo,
feito brisa, com seu brilho loiro,
a doçura quotidiana,
que me enche de ternura;
até a próxima fuga para novas aventuras...
Sara Almeida
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