Seu nome era Nilá. Ou pelo menos soava assim, a quem ouvisse sua mãe chamando por ela. O que vivia acontecendo. Nilá sempre ficava para trás nas caminhadas. Distraía-se com uma flor, um pássaro, uma borboleta voando. Quando um animal feroz se aproximava, Nilá era a última a perceber. E a correr. E lá estava a mãe, preocupada como são as mães, a gritar seu nome: Nilá! Nilá, ao contrário dos irmãos, estava invariavelmente pensativa, quieta, preocupada com outras coisas.
Coisas às quais ninguém prestava atenção: o barulho do vento, o som da água correndo, o canto distante de um pássaro noturno. Nas tempestades, quando todos se acotovelavam para proteger-se do frio, lá estava Nilá, no mundo da Lua, olhando para fora da caverna. Por que gostava de ficar longe dos outros quando a chuva caía? O pai não entendia. Nem os irmãos.
Mas a mãe, sensível como são as mães, sabia que Nilá gostava de ouvir o ruído da chuva caindo e batendo nas pedras. Nilá! Gritava a mãe, preocupada com a filha. E a chamava para juntar-se à família para se aquecer e proteger-se da chuva.
Foi numa manhã de sol que Nilá mudou a história do mundo, embora não tivesse consciência disso. Caminhava, como sempre, distante dos outros familiares. Os homens estavam caçando e as mulheres cuidavam das crianças pequenas. Nilá passeava - no futuro inventariam um termo melhor, "flanava" - como sempre fazia nas belas manhãs de sol quando a temperatura era amena e as plantas e os bichos pareciam comemorar e celebrar o fato de estarem vivos.
Nilá viu de longe os restos de um animal morto. Aproximou-se, observou ossos e cartilagens do que fora um abutre. As carnes já haviam sido devoradas por outros animais. Nilá viu um osso fino e oco, de pouco mais de 20 centímetros. Num impulso, Nilá pegou aquele osso. Deixou-o ao sol, para secar. Depois, com o auxílio de algumas pedras usadas pelo pai (que teve de pegar escondida, já que o pai não entenderia o que ela tinha em mente), Nilá fez alguns furinhos no osso. Depois desse dia, a vida de Nilá mudou. Ficou famosa e várias famílias vinham de longe, em algumas noites de céu claro, ouvi-la soprar aquele osso em torno da fogueira. Há 40.000 anos, Nilá inventou a primeira flauta da história e criou a Música.
Sua flauta foi descoberta há poucos dias por arqueólogos na Alemanha.
Tony Belloto
Com Nilá a Música, com a Música o Sonho e com o Sonho a Poesia... Que seria do mundo sem Nilá? Beijos
ResponderEliminar