sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Amor Amigo

Como será que nasce o amor dentro de um coração confuso e vazio.
Penso não ser capaz de explicar, e penso que não é necessário explicar.
É assim como magia, quando apercebemos já está lá plantado e com raízes.
Não sei dizer se meu melhor amigo se tornou meu amor, ou se meu amor tornou-se meu melhor amigo.
Nem consigo avaliar a quanto tempo isso ocorreu, pois isso do tempo é relativo.
Sempre que nos beijamos, nosso primeiro beijo é relembrado como se tivesse acontecido a pouco tempo atrás. Mas se não nos beijamos por um dia se quer parece que vou esquecer o sabor de tão doce beijo.
Amar é mesmo uma coisa engraçada, mudamos tanto, aprendemos tanto, perdemos e ganhamos, é importante saber lidar com cada etapa.
Sendo meu amor o meu melhor amigo as coisas são fáceis, ele me conhece bem e sabe lidar com todos os meus defeitos. Sendo meu melhor amigo o meu amor, conseguimos fazer da relação um caminhar leve e subtil.
Ainda bem que tenho um melhor amigo que me cuida com amor e um amor que me escuta quando preciso de um amigo.
Não fosse assim minha vida seria um fardo pesado demais.
Sara Almeida

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dividir

Quando queremos falar e nossa voz se cala, não obedece aos comandos. O melhor é parar e ficar pelo pensamento. Algumas vezes é prudente é calar e não magoar.

Quando o tempo livre desejado está disponível, percebemos não saber como aproveita-lo. O melhor é dar tempo ao tempo. O tempo nem sempre deve estar livre, também pode ser cansativo a ociosidade.

Quando a solidão esperada bate a nossa porta e podemos curtir a sós os nossos sentidos. Seria hora de fazer por nós, mas apetece mesmo é deitar e curtir apenas o sentir frio. A solidão é conselheira, mas nada como o calor do outro para nos aquecer, há um momento certo para fazermos a troca, temos o nosso próprio termómetro.

Quando percebemos que as coisas mais simples são mesmo as mais importantes, decidimos ser simples e talvez importantes. E aí vemos que o importante é ser simples, fica assim uma mistura de importância com simplicidade.

Quando olhamos ao nosso lado e simplesmente temos alguém importante que se preocupa com a gente, e percebemos que não podemos esquecer disso, pois isso é tudo.
Quando voltamos ao princípio de que saber separar nós dos outros é importante, pois há decisões que só nos podemos tomar, e há conquistas pelas quais só nós podemos lutar. Neste momento vemos que temos a solução simples, mas reparamos que a solução importante é sabermos nos misturar aos outros, sim pois as decisões depois de tomadas têm que ser desabafadas, e as conquistas divididas.

Quando os sentidos ficam esclarecidos e somos capazes de decidir o momento de estar só mesmo estando acompanhados, e conseguimos sentir o momento e o que dividir com o outro, neste exato momento percebemos que já dividimos o mais importante: o nosso caminhar.
Quando dividimos o nosso caminhar sabemos de imediato, tudo fica mais leve, e podemos continuar a ser exatamente como somos, mas com perspectivas de mudanças e para melhor é claro. E conseguimos seguir sem grande esforço, tudo flui naturalmente, sendo o que desejamos, não é preciso grandes malabarismos, quando tudo sai dos trilhos agarram-se as mãos umas nas outras e volta ao caminho longo e dividido por dois.

Quando tudo fica mais simples que matemática, as probabilidades aumentam, subtraímos algumas coisas, multiplicamos e somamos outras, e dividimos todos os dias. O segredo é este: dividir. Dividir é bom pois transforma tudo em dupla importância. A partir desta divisão tudo pode acontecer, embora seja mais simples que matemática, o amor não é ciência exata, temos que fazer mais que cálculos, na verdade temos que ser humanos!
Sara Almeida

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Incisão

E de repente tudo desaba como uma lata de tinta colorida num tecido branco.
Então o que resta é usar o que tem nas mãos: um tecido estampado de cores.
Ignorar as cores que não agradam e fixar naquela mais vibrante.
Uma vez mais,
recomeçar…
Sara Almeida

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Esboço

Uma caneca de chá
um lápis
papel
histórias ouvidas
letras inventadas
pessoas observadas
nascem vidas
morrem aparências
desaparecem pudores
novas personalidades
moldadas em cor grafite
noite calma
ideias sem fim
e o dia teimoso
nasce soberano
dita regras
a minha volta
o som bucólico
dos primeiros raios de sol
e o tic tac da responsabilidade
lá fora gritante a ordenar
tenho de ir
daqui aproveito o chá
as histórias ficam cá
lá ainda não sei
depois o lápis dirá
assim que a lua voltar
Sara Almeida

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A cambalear
















se por acaso tivesse esse "mal" para sempre?
não teria mal nenhum, afinal já antes vivia com vertigens
e agora elas são reconhecidamente orgânicas...
sobrevivo sempre
tenho a força dentro de mim
a força misturada com todos os outros sentimentos
é um tanto complicado por vezes encontrar a força
ela teima em se misturar a todo o resto,
se camuflar com o medo...
mas a encontro, anda sempre numa gaveta ou noutra
deste armário de sensações...
agarro na e sigo
sigo a cambalear, se cair basta levantar!
Sara Almeida

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

dupla sorte

Voa comigo
lê minha mente
não abandona nosso sonho
já estamos perto demais
longe dos demais
ainda não somos demais
segura minha mão
vou te entregar a minha força
sou sua pessoa
não perca a lucidez
todos estão embriagados
mantenhamo-nos sóbrios
não misture raciocínio
com sensações
temos tempo
há um tempo para tudo
vem comigo
agora eu comando
e sigo te amando
basta tu, bastamos nós
somos a nossa sorte
Sara Almeida

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Papel Rasgado

Se minha vida pudesse ser descrita num papel
Seria uma cartolina branca, com letras cursivas descaídas
Como se fosse em itálico, prefiro que seja a lápis com ponta bem fina
Para que a letra fique bem delineada, e possa ser apagada de acordo com o erro
As palavras simples e claras para todos entenderem o assunto
Não seria assim um grande tema, talvez algo de uma palavra só
Alguma palavra que me descrevesse, do tipo leve e aberta como ar

Para uns seria um ar puro e sustentável, uma seara em suas vidas
Para outros um ar sujo, poluído e irrespirável, mas continuaria a ser ar
Pois o ar é essencialmente um só, suas mudanças e diferenças dependem
Da região, do clima, e daquilo que as pessoas nele depositam
A característica do ar muda conforme o que lhe é feito
Sua pureza depende de como é tratado
E então a descrição a lápis pode ser apagada a qualquer momento
O ar pode ser limpo também, mas aquela cartolina alva acusará sempre o retoque
O ar uma vez impuro pode alcançar longas distâncias e afetar diversas pessoas
Usem me o quanto podem mas não é para sempre
Eu vejo, absorvo tudo... em cartolina encardida não seria descrita uma segunda vez
Prefiro a descrição a lápis que se apaga, não quero a caneta que borra,
E quando me afetam, se me rasgam viro ar e fujo com o vento

Sara Almeida

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Música

"Depois do silêncio, aquilo que mais aproximadamente exprime o inexprimível é a música." (Aldous Huxley)

A música é uma das mais belas criações do ser humano, embora eu pense que foi ouvindo os sons da natureza, dos bichos, e de toda melodia do silêncio é que alguém há muito tempo atrás foi capaz de começar essa jornada musical que invade nosso dia a dia. Sem a música as coisas aconteceriam, mas não seria a mesma coisa. A música está presente em todos os cantos, e tem o poder de nos aflorar sentimentos diversos.
Toda etapa de nossas vidas tem uma trilha sonora, e cada vez que a ouvimos voltamos aquele tempo passado, muitas vezes triste, mas muitas alegrias também voltam ao ouvir uma música especial. E cantar então, aí como é bom! Não é preciso ter voz boa, nem saber todas as notas musicais, pode ser um desarranjo, uma desafinação, não interessa, se estamos bem com a gente mesmo e conseguimos cantar alto, e quem sabe dançar ao mesmo tempo, é libertador.
Acho que a música é uma espécie de terapia relaxante, seja em casa, no trabalho, nos passeios, ouvir música intensifica os momentos. E cantar relembrando com os amigos, e principalmente com o amor, as músicas antes ouvidas e que nunca enjoam, aquelas que somos capazes de ouvir repetidamente e em cada som sentirmos algo novo ou algo velho que já nem lembramos mais.
Cada música pode ser uma espécie de histórico de nossas vidas, tem música que lembra um determinado momento, outras lembram determinada pessoa, mas tem aquela música que toca e se parece com alguém que a gente conhece, e passamos a gostar da música ou não.
É mesmo incrível as diferentes sensações musicais que vamos tendo ao longo da vida. Acho que todos deveriam ouvir música desde sementinha, na barriga da mãe.
Ando sempre a procura de novos sons do mundo, e encontro músicas em línguas que não percebo palavra nenhuma, mas a melodia da canção me faz pensar que sei do que falam, e quando vou em busca do significado muitas vezes até era um assunto semelhante ao que pensava. A música não tem nacionalidade, pode vir de qualquer canto do mundo e se tornar minha música, a música do meu momento, sem processos burocráticos, é só ouvir e gostar que nunca mais a abandono, deixo-a ali guardada para quando quiser voltar aquele sentimento.
É assim a música para mim, meio que um túnel do tempo, quero voltar a algum lugar sem lá estar, a algum ano passado, ouço a música e me sinto lá, viajo no túnel do tempo musical, caminho pelas notas como se fossem a escada para meu lugar desejado.
Não entendo patavina de música, sou mesmo curiosa, e adoro sons, então tudo que agrada este coração aprendiz que eu tenho logo vira parte da minha vida.
Há músicas para todos os momentos e todos os sentimentos, podemos chorar ou rir, sentir saudades ou vibrar, mas como a vida é feita de sentimentos, então sinto a música e tudo que ela tem a oferecer. Vou preenchendo as lacunas com as canções que por vezes até curam, e quando não curam ao menos acalmam.
Estejam atentos com os ouvidos como estão atentos com a respiração, tem muita música por aí que fingimos não ouvir. Fechem os olhos e sintam a música, principalmente a que esta no fundo do coração.
Sara Almeida

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Nádia

Num vestido preto, sapatos vermelhos, Nádia caminha desconsolada pela cidade.
Percorre as ruas onde cresceu, e não encontra nem o cheiro inesquecível dos jacintos com suas cores delicadas, naquele tempo toda varanda tinha seu vaso de jacinto.
Cada olhar que se abre emana lembranças suaves de sua vida, que já nem parece que foi sua.
Mal consegue imaginar de onde tirou a estúpida ideia de abandonar aquela vida simples e pessoas carinhosas em busca de novas experiências e pessoas diferentes. O tempo já não volta, mas não é forte o suficiente para apagar os bons sentimentos que guarda desse tempo tão distante.
Agora sua antiga casa já foi ocupada por uma mais moderna, no lugar do jardim deve ter um cimentado duro e cinzento, ela não sabe pois o portão antigo, de onde seu pai tantas vezes a gritava, foi substituído por um outro alto e bem fechado de modo a esconder a casa e a privacidade das pessoas. Que ironia privacidade era tudo que ela almejava, e agora vê-se só e privada de sentimentos e por vezes até de sentidos.
Olha na esquina e vê que a praceta com as árvores de copas altas a cobrirem os bancos, onde tantas vezes namorava Ulisses, agora dá espaço a uma igreja, mas ela nem foi capaz de ver que tipo de igreja é aquela, não importa. Nem o banco, nem as árvores, nem ela e nem Ulisses, nada disso é mais o mesmo. Tudo mudou, os anos passaram tão rapidamente, agora algumas rugas começam a dominar sua face e até seu coração. Uma lágrima escorre no rosto, ela pensa: será que Ulisses ainda lembra-se dela?
Pensa quantas pessoas neste mundo já fizeram como ela, deram um passo definitivo na vida pensando ser a melhor atitude a ser feita, e após tanto tempo perceber que a felicidade estava ali mesmo, no lugar de que tanto fugiu.
Nádia sempre quis ir para longe dali, queria que seus pais fossem modernos, liberais, menos caretas, como ela costumava dizer. Queria ter coisas que ali nunca teria, como um belo par de saltos altos vermelhos caros, que agora esta calçada. Um apartamento na capital, um automóvel do ano, amigos aos montes, e um namorado muito rico e romântico, não um como Ulisses que só almejava ter uma casa, um cão e dois filhos, isso para ela era pouco.
Agora que tem muito daquilo que tanto desejou, e que teve custos altos para ela, passou por cima de princípios nobres para alcançar a vida estável que tem, justo agora que poderia simplesmente seguir, não é capaz sente-se presa ao passado, presa as atitudes que praticou. Sempre colocou sua ideia de vida perfeita a frente de tudo e de todos, humilhou e traiu muitos amigos para subir na carreira, envergonha-se, apesar de não poder fazer nada quanto a isso. Parece que seu castigo é este remoer a dor sozinha, e caminhar escondida a noite pelo seu passado sem poder estar presente nem sonhar com um futuro, apenas lembrar, e imaginar como seria se tivesse ficado, se ouvisse a mãe, se aceitasse seus antigos amigos, e se respeitasse Ulisses como ele era: simples, humilde e feliz.
Já não há o que fazer, é órfã, nem sequer pode abraçar seus pais e pedir desculpas. Dos amigos nem se lembra o sobrenome, da família não sabe o paradeiro, e de Ulisses soube alguns anos atrás que casou-se e mudou-se para uma cidadezinha distante, e ela nem ousaria procurar por ele.
Nádia respira fundo, tem ressacas de saudades, sempre que volta ali sente-se impotente, a pior das criaturas, mas é a única maneira de recordar aquela Nádia destemida, talvez até inocente, que achava que a felicidade era cara, mas negociável. Enganou-se tantos anos, e agora acorda só e infeliz fica mais triste quando pensa que todo seu dinheiro não tem valor nenhum.
Caminha até o carro já descalça, com os sapatos vermelhos nas mãos, cansada de se destruir mais ainda, decide voltar para o seu apartamento, dizem que após uma noite de sono tudo muda, quem sabe pode acordar renovada e disposta a se perdoar. A estrada é longa, mas Nádia adora a noite, e a lua cheia, com um brilho amarelado, ilumina o caminho.
Quanto mais distante fica de sua terra natal, mais cresce nela a vontade de ser feliz novamente, essa não foi a primeira vez que Nádia abandona um dia de trabalho, pega a estrada e vaga por aquela cidade em busca do eu perdido. Não será preciso uma noite de sono, a noite por si só acalenta, ela decide repentinamente que essa foi a última vez que apertou a própria ferida como se fosse merecedora apenas do sofrimento.
Entra para o conforto do seu apartamento e deita-se disposta a trancar bem no fundo de si tudo aquilo que viveu e principalmente tudo o que fez. Se continuar assim só será capaz de continuar errando, e isso já é fardo pesado demais para uma mulher elegante como ela. Reconheceu seus desatinos, agora é só resgatar o que há de bom ali em algures, se teve força para tantas maldades, que requer muita atenção, também conseguirá ser boa, lembra-se que é bem mais simples, pois basta deixar a vida acontecer, puro e simplesmente.
Ainda tem uns bons anos para viver, se continuar entregue ao arrependimento, nos próximos tempos não terá nem lembranças e a solidão já foi castigo longo, então ri de si própria, deve haver mais como ela, se redimirá para ser diferente, afinal temos que aprender com nossos erros. Finalmente adormece num sono pesado, acorda leve, ainda não está feliz, mas calça seus sapatos preferidos e dá o primeiro passo para a felicidade.
Sozinha, como sempre, compra um vaso e planta jacintos, logo chegará a primavera e Nádia colherá o que plantou.
Sara Almeida

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Vereda

tudo passou a flor que parecia bela murchou
O sol queima já não dá calor
a solidão doída agora é a melhor amiga
não importa mais o significado da vida
o impulso secreto é de estar num deserto
não fosse o beijo que mais teria de concreto
por isso segura-o como o próprio ar
todos os dias sentimentos são estraçalhados
retalhos de um ser da vida real
que de significado só encontra o sabor amargo da injustiça
o que parece verdade é falso e o contrário pode ser exato
e segue descompassados
sem itinerário
na trilha do acaso
a procura da antiga vereda
vê estranhos pelo caminho
busca a flor roubada e o calor agradável
com coração apertado
com a coragem de quem quer voltar a ver e sentir
e não só seguir por seguir
Sara Almeida
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