segunda-feira, 22 de março de 2010

O Louco

Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!”
Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
Gibran Khalil Gibran

2 comentários:

  1. Quem me dera escrever assim e poder tocar tão fundo que me sentisse dono da alma das pessoas. Belo pensamento para um difícil início de semana. As palavras são eternas mesmo.
    Calorosos abraços.

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  2. É Sarinha...

    O jeito é descomplicar a complicação e por caras limpas na vida da loucura real, nÉ? Afinal do que vale passarmos pelo mundo como qualquer reles mortal todo igual, aparentemente são, e normal?

    Até mais...

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