quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Esboço

Uma caneca de chá
um lápis
papel
histórias ouvidas
letras inventadas
pessoas observadas
nascem vidas
morrem aparências
desaparecem pudores
novas personalidades
moldadas em cor grafite
noite calma
ideias sem fim
e o dia teimoso
nasce soberano
dita regras
a minha volta
o som bucólico
dos primeiros raios de sol
e o tic tac da responsabilidade
lá fora gritante a ordenar
tenho de ir
daqui aproveito o chá
as histórias ficam cá
lá ainda não sei
depois o lápis dirá
assim que a lua voltar
Sara Almeida

3 comentários:

  1. Sara, bom dia.

    Eu imagino que chá, cobertores, agasalhos, lareiras e outros correlatos, formam bons pares na defesa contra o frio.

    E tocando na palavra "defesa" imagino que tens um emprego a ser respeitado dentro da sociedade portuguesa, o que lhe traz com certeza suporte para desfrute dos seus prazeres via trabalho.

    Diferente de ti é ser como eu, meu próprio patrão. São responsabilidades que mesmo me dou. E o desfrute fica na hora em que julgo necessária.

    Me fizeste pensar -através do que escreveste- que uma pintura (por mais fantástica que seja) começa num esboço prêto e branco, para depois ir tomando cores aos poucos.

    Delinear é dar forma, compor, criar, dar vida a partir do nada. É indibitavelmente dom da criação que na palavra inglesa se diz D' us, de nós, do que é de todos, o comum que não se vê.

    Saudações.

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  2. Bom dia Sara...

    Que bom ter as escapadelas oportunas. Penso que a descontração sirva-lhe como válvula de escape para que voltes a sua atividade mais receptiva.

    As vezes a solidão pode ser complicada. Há gente que afirma que não há nada melhor do que estar em introspecção. Acho que há fases para tudo, e pensar nos rumos que já tomamos, ou que podemos tomar na vida é sobretudo um grande ato de coragem.

    O poeta Vinicicios de Morais costumava afirmar que a maior solidão é a do ser que não ama, o que se ausenta da dor, de quem fica sempre na defensiva, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana, e que está sempre fechado no absoluto de si mesmo. Aquele que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro, por ter medo de amar, de ferir e ferir-se.

    O ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Aquele que queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno, sendo a angústia do mundo que o reflete.

    Aquele que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

    Sabemos que o mundo é também composto de coisas tristes, porém cabe a cada um nós separar o joio do trigo, o que não presta do que pode ser aproveitado. Coisas simples, tais como passear de mãos dadas, dizer que ama sem receio, afagar os cabelos da pessoa amada, e tantas outras demostrações de afeto, que no fundo não nada e que acrescenta muito.

    Sara, até breve...


    ps. Boas escapadelas.

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  3. Ser poeta é se dividir em dois. Um que pensa com o coração, para dentro de si mesmo. O outro, que não é o poeta, é aquele que pensa para o mundo material e para as contradições que este encerra. Ser poeta é construir dentro de si um mundo que fala do mundo de fora, mas com ele não se mistura.
    Abraços.

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