Margarida era uma flor cândida e encantadora, vivia desgostosa e exausta no seu conformismo, ora queria bem sua vida ora mal queria fosse o que fosse.
Já estava habituada as manhãs intermináveis que as abelhas vinham lhe importunar com suaves picadelas, já não lhe parecia nada de especial como era quando ainda era pequenina.
Mas crescera e todas as festinhas em preto e amarelo das abelhas não lhe bastava.
Todos que viviam no jardim acostumaram-se a presença da Margarida que desde pequenina despertava muito cedo quando ainda escuro estava, sempre a espera do calor do sol e na certeza do luar ao anoitecer. E assim esbanjava sua graça por todas as estações.
Ela sempre soube sua condição de flor, apesar de ver que o único bálsamo de vida para suas companheiras era as tardes chuvosas de verão, não sentia-se realizada e estava a espera de algo novo e arrebatador.
Observava atentamente todos os seres que por ali passavam e gostava especialmente das Borboletas que lhe entendiam e traziam notícias de um mundo de cores e flores que ela nunca iria ter conhecimento. Só lamentava por elas viverem tão pouco, mas por outro lado chegou a conclusão que as borboletas eram felizes, pois além de infinitamente belas conheciam muito mais coisas em duas semanas do que ela em sua vida toda.
Margarida queria mesmo novidade, sonhadora queria ser amada, queria mais da vida, algo mais que o toque do orvalho matinal, mais do que o brilho ofuscante do sol, mais do que as brincadeiras das estrelas que até empurravam umas as outras fazendo-se estrelas cadentes a verem se a alegravam.
Todas essas coisas a deixavam feliz sim, sabia que vivia num ambiente agradável, não vivia presa a um vaso contando os dias da morte. Tinha calor, frio, chuva e sol, tudo na medida certa. Já estava a parecer-se com humanos que nunca satisfazem-se, lembrou-se da menina Ana que vez ou outra passeava por ali chorosa, a reclamar de uma vida tão bela quanto ela.
Pirilampos que passavam por ali, chateavam-se ao ver a bela flor, os olhos do dia, a murchar lentamente. Sabiam que era beleza singela da Margarida que encantava aquele jardim, e reuniram esforços múltiplos para trazer de volta aquela Margarida de outrora que dormia cedo e ao acordava esbanja felicidades. Os Pirilampos não queriam ver a bela flor sem o sono reparador, e como sabiam que Margarida gostava de conhecer tudo de diferente que existisse por aí, enviaram numa certa tarde um amigo especial que foi uma visita mais que especial para Margarida.
O Beija-flor veio aquele jardim sem saber ao certo que tipo de flor ali havia, mas de longe foi puxado pelo amarelo central da Margarida, mais parecia um pequeno sol, ou seria o reflexo do astro rei? O certo é que quanto mais se aproximava mais bela lhe parecia aquela flor, como pode viver até aquele momento sem ver aquele brilho.
Foi se aproximando lentamente, até encostar o seu longo bico no centro daquele amarelo ouro, ficou ali imóvel no ar, a “beijar” aquela que dali em diante passou ser a mais doce de todas as criaturas para ele.
A Margarida quando viu ao longe aquele pássaro pequeno e belo, com cores mais bonitas ainda que as das borboletas, a voar com graça e delicadeza, como um bailarino a dançar, pensou se seria real este ser indiscutivelmente perfeito. Ficou extasiada quando ele pairou sobre ela como se pedisse autorização para dar-lhe um beijo. Ficou trêmula com o toque do pássaro. E percebeu logo que algo novo passava dentro dela. O Beija-flor sugou todo o néctar da Margarida, nunca havia provado mais doce que isso, e em troca ofereceu a ela a beleza do seu amor e sua companhia.
Assim o sonho da Margarida realizou-se: ela encontrou o amor e é amada. Sentia-se a mais feliz das criaturas.
Todos os habitantes daquele jardim foram testemunhas deste encontro de beleza, era um amor diferente dos outros que ali nasceram.
Já estava habituada as manhãs intermináveis que as abelhas vinham lhe importunar com suaves picadelas, já não lhe parecia nada de especial como era quando ainda era pequenina.
Mas crescera e todas as festinhas em preto e amarelo das abelhas não lhe bastava.
Todos que viviam no jardim acostumaram-se a presença da Margarida que desde pequenina despertava muito cedo quando ainda escuro estava, sempre a espera do calor do sol e na certeza do luar ao anoitecer. E assim esbanjava sua graça por todas as estações.
Ela sempre soube sua condição de flor, apesar de ver que o único bálsamo de vida para suas companheiras era as tardes chuvosas de verão, não sentia-se realizada e estava a espera de algo novo e arrebatador.
Observava atentamente todos os seres que por ali passavam e gostava especialmente das Borboletas que lhe entendiam e traziam notícias de um mundo de cores e flores que ela nunca iria ter conhecimento. Só lamentava por elas viverem tão pouco, mas por outro lado chegou a conclusão que as borboletas eram felizes, pois além de infinitamente belas conheciam muito mais coisas em duas semanas do que ela em sua vida toda.
Margarida queria mesmo novidade, sonhadora queria ser amada, queria mais da vida, algo mais que o toque do orvalho matinal, mais do que o brilho ofuscante do sol, mais do que as brincadeiras das estrelas que até empurravam umas as outras fazendo-se estrelas cadentes a verem se a alegravam.
Todas essas coisas a deixavam feliz sim, sabia que vivia num ambiente agradável, não vivia presa a um vaso contando os dias da morte. Tinha calor, frio, chuva e sol, tudo na medida certa. Já estava a parecer-se com humanos que nunca satisfazem-se, lembrou-se da menina Ana que vez ou outra passeava por ali chorosa, a reclamar de uma vida tão bela quanto ela.
Pirilampos que passavam por ali, chateavam-se ao ver a bela flor, os olhos do dia, a murchar lentamente. Sabiam que era beleza singela da Margarida que encantava aquele jardim, e reuniram esforços múltiplos para trazer de volta aquela Margarida de outrora que dormia cedo e ao acordava esbanja felicidades. Os Pirilampos não queriam ver a bela flor sem o sono reparador, e como sabiam que Margarida gostava de conhecer tudo de diferente que existisse por aí, enviaram numa certa tarde um amigo especial que foi uma visita mais que especial para Margarida.
O Beija-flor veio aquele jardim sem saber ao certo que tipo de flor ali havia, mas de longe foi puxado pelo amarelo central da Margarida, mais parecia um pequeno sol, ou seria o reflexo do astro rei? O certo é que quanto mais se aproximava mais bela lhe parecia aquela flor, como pode viver até aquele momento sem ver aquele brilho.
Foi se aproximando lentamente, até encostar o seu longo bico no centro daquele amarelo ouro, ficou ali imóvel no ar, a “beijar” aquela que dali em diante passou ser a mais doce de todas as criaturas para ele.
A Margarida quando viu ao longe aquele pássaro pequeno e belo, com cores mais bonitas ainda que as das borboletas, a voar com graça e delicadeza, como um bailarino a dançar, pensou se seria real este ser indiscutivelmente perfeito. Ficou extasiada quando ele pairou sobre ela como se pedisse autorização para dar-lhe um beijo. Ficou trêmula com o toque do pássaro. E percebeu logo que algo novo passava dentro dela. O Beija-flor sugou todo o néctar da Margarida, nunca havia provado mais doce que isso, e em troca ofereceu a ela a beleza do seu amor e sua companhia.
Assim o sonho da Margarida realizou-se: ela encontrou o amor e é amada. Sentia-se a mais feliz das criaturas.
Todos os habitantes daquele jardim foram testemunhas deste encontro de beleza, era um amor diferente dos outros que ali nasceram.
Os Pirilampos apadrinharam o amor sublime do pássaro pela flor e velam todas as noites o sono da Margarida até o amanhecer e a chegada do Beija-flor.
A Margarida nunca mais ficou só. E o jardim cada vez mais belo com a graça da Margarida e o feitiço do Beija-flor.
A Margarida nunca mais ficou só. E o jardim cada vez mais belo com a graça da Margarida e o feitiço do Beija-flor.
Sara Almeida
Soneto
ResponderEliminarPor que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio
Chico Buarque.