quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Orquestra de brilho

Todos os anos luzes de Natal chegam de mansinho, feito vaga-lumes a piscar numa orquestra de brilho silenciosamente bela. Novos sentimentos nascem, mas as velhas lembranças suavemente renascem…
Distante deste brilho, rodeado pelo verde da mata, pelos sons da natureza vivia um menino que via este brilho ao longe quase apagado, mas sabia que existiam nas cidades punhados de estrelas que poderiam ser tocadas com as mãos. Que a cada novo Dezembro elas surgiam e embelezavam a vida dos habitantes que deviam ser felizes com este brilho tão lindo que ele podia ver dali daquele cantinho do mundo.
Do cantinho de sua cama, Garibaldi olhava pela janela e imaginava que as luzes do Natal deviam ser tão lindas e tão brilhantes quanto as luzes das estrelas que iluminavam seus pensamentos o ano todo. E se forem tão mágicas como a Lua, assim como dizia o senhor que trazia as cartas, aí terá valido a pena esperar até ser grande e colocar suas próprias estrelas brilhantes na casa que terá na cidade.
Segundo o senhor que entregava cartas a cidade tem coisas de todos os tamanhos, formas e cores, e assim as estrelas que os homens da cidade fazem para o Natal devem ser coloridas, por isso ainda mais bonitas do que as do espaço. O menino sempre pensou que faltavam cores nas estrelas.
O menino adorava o espaço, olhava as estrelas todas as noites e dava-lhes nomes bonitos como os nomes das moçoilas que os irmãos mais velhos enamoravam. Adorava tudo que brilhasse, ali naquele pedaço de terra onde vivia com sua família Garibaldi não tinha mesmo nada mais que brilhasse, pois não tinha energia elétrica e tinha que se contentar com a fraca e escassa luz do velho lampião de seu finado pai.
Todos os anos Garibaldi esperava ansiosamente o Natal, ainda que não entendesse o porque, achava tudo que lhe contavam desta data lindo e brilhante. Apesar da desaprovação de todos, o menino montava sua árvore com os galhos secos, que ele mesmo apanhava, e atava penduricalhos diversos. Sempre existiu o Natal para ele, na escuridão da noite os pensamentos brilhavam.
O menino queria crescer logo, mudar-se para a cidade de luzes, esperar o Natal como sempre sonhara. Quanto mais escutava as histórias da cidade ainda mais queria aventurar-se. Sentia-se sozinho ali no escuro da floresta, ainda que rodeado de entes queridos, e não importava de ficar só na cidade rodeado de luzes que ele próprio daria o brilho.
Garibaldi nasceu do acaso, vivia com poucos recursos, pouco carinho, e educação quase não lhe davam. O pouco que aprendia era sempre com o senhor que trazia as cartas. Mas o menino tinha um brilho próprio, um desejo de ser alguém, uma beleza singela, uma força singular.
Apesar de todos os desafios encontrados Garibaldi nunca deixou apagar em seu coração a coragem de desejar. Fez esforços extraordinários para realizar seu primeiro desejo, o de morar numa cidade que tivesse luzes. Cada vez que nasce Dezembro renasce em Garibaldi aquele menino sonhador que nunca o deixa esquecer do cantinho de onde ele veio, mas acima de tudo sempre o faz lembrar de que pode ir a muitos outros cantos desde que acredite em si.
Garibaldi cresceu só, aprendeu só, tornou-se um presente para si próprio.
O Natal escuro daquele menino, hoje é colorido e brilhante, tem o brilho de todas as luzes que ele é capaz de pintar. E principalmente as estrelas e a Lua ainda iluminam os caminhos deste menino que tornou-se homem, mas ainda guarda a magia de criança. Tem agora ao seu lado Beta, a estrela maior de sua vida. Há pessoas que não se apagam.
Se cada luz de Natal correspondesse a um Garibaldi, o planeta seria ainda mais brilhante e feliz. E o Natal teria um significado realmente puro.
Sara Almeida

1 comentário:

  1. O natal para mim não é nada mais. Talvez fosse caso houvesse mais outros milhões de Garibaldis, mas como não é assim...
    Aliás, Garibaldi é o nome de uma revolucionária italiana que lutou no Brasil, em meados do século xvIII. Nome de guerreiro, acertou na escolha.
    BJo!

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