No carro (parte I)
-Descobri a vocação da minha vida.
-ai ai, e o que será desta vez?
-ai ai, e o que será desta vez?
Ela responde com grande satisfação:
-Quero ser radialista!
-hahahahaha.
Um longo silêncio toma conta do espaço.
-Porque não poderia ser radialista? Quero falar para as pessoas ouvirem, adoro falar!
-não dá amor, você tem a voz estridente demais, a sério radialista não pode ser.
Ela, tristemente responde:
-Mataste meu sonho no momento do nascimento. Você é que não é bom ouvinte.
-desculpe lá, não era isso, mas já ouviste com atenção a voz das radialistas?
-Sim, e depois?
-são vozes gostosas de se ouvir.
Como se ser radialista fosse só isso.
-Ah, eu posso ir a fonologia e ficar afinadinha, tudo tem jeito, não achas?
-esquece isso, você pode ser uma outra coisa qualquer.
-Já sei posso ser muda daqui para frente!
-amor, amor, amor, não faz isso, fala comigo...
Ela cala pensativa, tenta perceber se tem essa voz enjoativa e nunca notou, sempre fala sem parar, fica triste a pensar que pode ter sido inconveniente o tempo todo. Olha triste para ele, já o desculpou mas ele não precisa saber.
Pelo caminho todo o único som que se ouve é a voz da radialista preferida, que não se cala para “abafar” a confusão.
E ele, numa tentativa de se redimir, tenta acarinhar os cabelos dela, ela ignora, olha pela janela do carro e até sorri escondida pensando que "era melhor quando a gente andava de bicicleta, rsrs".
Ela cala pensativa, tenta perceber se tem essa voz enjoativa e nunca notou, sempre fala sem parar, fica triste a pensar que pode ter sido inconveniente o tempo todo. Olha triste para ele, já o desculpou mas ele não precisa saber.
Pelo caminho todo o único som que se ouve é a voz da radialista preferida, que não se cala para “abafar” a confusão.
E ele, numa tentativa de se redimir, tenta acarinhar os cabelos dela, ela ignora, olha pela janela do carro e até sorri escondida pensando que "era melhor quando a gente andava de bicicleta, rsrs".
Sara Almeida