sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A pequena morte

Não nos provoca o riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto do seu voo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chama na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntarmo-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.

Eduardo Galeano, O livro dos abraços.

2 comentários:

  1. Isso é aquilo que chamo de o parágrafo perfeito. Ele não só consegue expressar toda a poesia de um gesto simples e fundamental, como consegue explorar a língua em sua plenitude para fazê-lo. O texto é um brinde a vida.
    Abraços.

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  2. Concordo, um brinde a vida mesmo. Eu leio e releio, e inacreditavelmente me vejo nestas frases. Há pessoas com este talento incrível que quase nos abraçam com palavras e a distância.

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