terça-feira, 29 de abril de 2014

para os dias bons SORRISO
e para os ruins PACIÊNCIA

terça-feira, 22 de abril de 2014

desi-lus-ão

no fim de tudo certifiquei-me deste abismo entre nós
como sendo a maneira mais segura de não matar-te
eu sendo a primeira a morrer poderia sempre renascer
pois a minha morte foi desta em que continua-se viva
a olhar tudo e nada ver
a ouvir tudo e nada escutar
a perder os sentidos mesmo estando em plena saúde
desta morte sei que muitos morrem e renascem
quem sabe mais belos, mais completos, mais reais
mas a tua morte, desta não escaparia com vida
não com a vida plena que hoje gozo
planeei diversas maneiras de matar-te
a dor era tão grande, que a ideia de matar-te era o que me mantinha em pé,
assim o desejo de acabar com qualquer vestígio teu
esse sim foi o maior desejo de minha vida
mas afundei-me num abismo ainda maior
e não fui capaz de colocar em prática nenhum dos planos homicidas
e agora, no meu renascimento, posso enxergar em toda plenitude
o quanto seria inútil, dispensável e quase triste tua morte
deixar-te aí do outro lado do abismo
fez-me ver que nada perdi,
tu morreste, sem eu ter movido uma palha,
morreste para mim e para tudo que seria nosso, e agora é só meu,
no mesmo momento em que tua atitude contradisse tua promessa para comigo
foste tu quem cometeste um crime, ao matar um amor sincero,
com muito pesar segui em frente, sem saber para onde, nem como
simplesmente fui seguindo o vento, e sem olhar para trás
deixando pelo caminho, tragicamente, muitas partes de mim
inclusive a culpa que teimei em assumir minha e que nunca tive,
a sentir imensas saudades de mim mesma,
de ti guardei na memória apenas o retrato de alguém que viveu
em determinada época, mas de tão perfeito não poderia ser real
e tudo que não é real um dia morre na desilusão
e sua morte foi necessária, suas cinzas jogadas no abismo,
e minha essência ressurge em toda sua delicadeza
pronta para semear o novo e colher o belo
a luz que nasceu de mim com sua partida
foi maior que a escuridão em que abandonaste
o que restou de mim é fruto
tem cor, tem cheiro, tem formas, tem sons
SA

quarta-feira, 12 de março de 2014

"é curioso como uma palavra,
um texto, uma música, 
um erro, uma mentira,
uma verdade, uma pessoa,
podem mudar o teu estado de espírito
em apenas um segundo...
e às vezes toda uma vida também"

terça-feira, 11 de março de 2014

(im)possibilidades

mudando tudo
para ser a mesma
para uns paradoxo
para outros paradigma
para mim
apenas um ser em mudança
que mantém a essência de sempre
apenas um universo
de (im)possibilidades
abrindo os olhos
em busca de luz
esgotando as lágrimas
para resgatar todos os sorrisos

domingo, 2 de março de 2014

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. 
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Desapegue sem remorsos.
E deixe espaço para o novo entrar.
Esqueça. Se esqueça.
Sem melancolias. Sem saudades.
Sem medo de ver
o vazio.
Fernanda Mello
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